Tempo de Tela e Problemas Emocionais em Crianças: Um Círculo Vicioso?

Um novo e abrangente estudo internacional revelou que o uso excessivo de telas na infância está associado a problemas emocionais e comportamentais, como ansiedade, agressividade e baixa autoestima. Mais que isso: crianças com esses problemas tendem a buscar ainda mais as telas como forma de fuga, criando um ciclo difícil de romper.

Prof. Emanuel Martelli

6/24/20252 min read

boy in white shirt holding black textile
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Por Professor Emanuel Martelli

O uso excessivo de telas eletrônicas pode causar sérios problemas emocionais e comportamentais em crianças — e, em um ciclo preocupante, essas mesmas dificuldades podem levá-las a buscar ainda mais tempo de tela como forma de compensação. É o que revela uma importante meta-análise publicada pela American Psychological Association no periódico Psychological Bulletin (2025).

O estudo analisou de forma sistemática 117 pesquisas conduzidas em diversos países, abrangendo dados de mais de 292 mil crianças com menos de 10 anos. A conclusão é clara: quanto mais tempo as crianças passam diante de telas — seja assistindo vídeos, jogando, usando redes sociais ou mesmo fazendo tarefas online — maior o risco de desenvolver problemas socioemocionais, como ansiedade, depressão, agressividade ou baixa autoestima.

Segundo o pesquisador Michael Noetel, da Universidade de Queensland, "as crianças estão cada vez mais imersas no mundo digital, e muitas recorrem às telas como uma forma de lidar com o estresse, o tédio ou dificuldades emocionais. Mas isso pode, na verdade, agravar ainda mais esses problemas."

Um ciclo preocupante

Os dados mostram uma relação bidirecional: o uso de telas contribui para o surgimento de dificuldades emocionais e comportamentais, e essas dificuldades, por sua vez, levam as crianças a buscar ainda mais tempo de tela como fuga ou distração.

Além disso, o tipo de conteúdo consumido faz diferença: jogos eletrônicos, por exemplo, estão mais associados a riscos do que conteúdos educativos ou recreativos saudáveis. Crianças que já apresentam sinais de ansiedade ou agressividade tendem a se refugiar especialmente nos jogos — um padrão que preocupa pais e educadores.

Fatores de risco: idade e sexo

O estudo também aponta que crianças entre 6 e 10 anos são mais vulneráveis do que as menores de 5 anos. E há uma diferença significativa entre meninos e meninas: as meninas tendem a desenvolver mais problemas emocionais com o uso excessivo de telas, enquanto os meninos são mais propensos a aumentar o uso de telas diante de problemas emocionais já existentes.

O que os pais podem fazer?

Os especialistas recomendam cautela no uso de dispositivos eletrônicos. Segundo os autores do estudo, não se trata apenas de restringir, mas de oferecer apoio emocional às crianças. Crianças que passam horas diante das telas frequentemente precisam de mais atenção, escuta e orientação dos adultos.

O uso de controles parentais, o incentivo a brincadeiras offline, o fortalecimento dos laços familiares e o acompanhamento profissional quando necessário são caminhos possíveis para romper esse ciclo nocivo.

A Dra. Roberta Vasconcellos, autora principal da pesquisa, resume:

“Ao compreender essa relação mútua entre o tempo de tela e os problemas socioemocionais, pais, professores e formuladores de políticas públicas poderão apoiar melhor o desenvolvimento saudável das crianças em um mundo cada vez mais digital.”

Conclusão

Este estudo representa um passo importante para compreendermos não apenas que existe um problema, mas como ele se forma e se retroalimenta. Em tempos em que as telas se tornaram parte inevitável da vida cotidiana, é urgente encontrar estratégias equilibradas para proteger a saúde mental e emocional dos pequenos.

Referência do estudo original:
Vasconcellos, R. P., et al. (2025). Electronic screen use and children’s socioemotional problems: A systematic review and meta-analysis of longitudinal studies. Psychological Bulletin. Publicado online em 9 de junho de 2025 pela American Psychological Association.