A Presença da Mãe nos Três Primeiros Anos: A Base da Saúde Emocional dos Filhos

Esta entrada explora os impactos da ausência materna e da falta de atenção na saúde emocional e no desenvolvimento das crianças. Com base em pesquisas científicas, aborda questões como ansiedade, depressão, dificuldades sociais e o papel fundamental do vínculo afetivo. Também discute os efeitos nocivos do uso excessivo de telas (“cheche”) e sua relação com o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), oferecendo orientações para prevenir e reparar esses danos desde a infância. rição do post.

ANSIEDADE

Emanuel Martelli

6/5/20254 min read

baby in pink shirt lying on white textile
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Vivemos numa sociedade que cada vez mais exige que a mulher “produza”, “avance” e “tenha sucesso” nos moldes definidos pelo mundo corporativo. O que muitas vezes se sacrifica nesse processo é algo insubstituível: a presença emocional e física da mãe nos primeiros anos de vida dos filhos.

A psicoterapeuta Erica Komisar, autora do livro Being There: Why Prioritizing Motherhood in the First Three Years Matters, traz à tona uma realidade que, embora desconfortável para muitos, é confirmada por décadas de pesquisas clínicas e neurológicas: a ausência materna precoce está diretamente ligada ao aumento de distúrbios emocionais, depressão, ansiedade e dificuldades de vínculo afetivo em crianças e adolescentes.

a. Vínculo de Apego: A Raiz da Confiança Humana

Quando uma mãe responde de forma sensível, amorosa e constante às necessidades do bebê, ela está fazendo muito mais do que simplesmente cuidar. Ela está moldando o cérebro e a alma da criança.

Estudos do psiquiatra John Bowlby, criador da Teoria do Apego, revelam que essa interação afetuosa nos primeiros anos é o que forma a estrutura emocional básica do ser humano. Um vínculo seguro com a mãe gera filhos com maior resiliência, capacidade de autocontrole, empatia e estabilidade interior.

Como resume Komisar:

“Se uma criança não tem alguém que espelhe seus sentimentos com constância e amor, ela se sentirá invisível. Crianças invisíveis tornam-se adultos desconectados emocionalmente e carentes de sentido.”

Cortisol, Cérebro e Estresse Precoce

A ausência afetiva, mesmo em lares aparentemente “funcionais”, pode ser vivida pela criança como abandono. Essa percepção ativa o sistema de alerta do corpo e libera cortisol, o hormônio do estresse.

O neuropsiquiatra Bruce Perry demonstrou que o estresse tóxico nos primeiros anos interfere na formação de áreas cerebrais como o hipocampo (memória) e o córtex pré-frontal (tomada de decisões e controle emocional). O resultado? Crianças com mais dificuldade de atenção, irritabilidade, impulsividade e insegurança.

b. O Dano Emocional das Creches na Primeira Infância

Embora socialmente aceitas e até incentivadas, as creches em idade precoce (antes dos 3 anos) não são ambientes ideais para o desenvolvimento emocional saudável.

O National Institute of Child Health and Human Development (NICHD) dos EUA conduziu um estudo longitudinal com mais de 1.000 crianças e revelou que quanto maior o tempo diário passado em creches nos primeiros anos, maior a incidência de comportamentos agressivos, impulsividade e dificuldade de controle emocional.

Komisar destaca que a creche, mesmo com boa estrutura, não pode substituir a presença emocional exclusiva da mãe. O revezamento de cuidadores, a ausência de vínculo estável e a superestimulação precoce expõem o cérebro imaturo da criança a um nível de estresse que prejudica a formação da segurança emocional e da identidade.

A Relação Entre Creche Precoce e TDAH

Pesquisas recentes apontam uma correlação significativa entre a introdução precoce em creches e o aumento dos casos de TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade).

Um estudo publicado no Journal of Developmental & Behavioral Pediatrics (2010) revelou que crianças que passaram longos períodos em creches nos primeiros anos de vida apresentaram índices mais altos de TDAH aos 7 anos, mesmo controlando fatores genéticos e socioeconômicos.

A hipótese é clara: a privação de apego seguro e o excesso de estímulo artificial geram uma sobrecarga no sistema nervoso central em formação, favorecendo padrões de atenção fragmentada, hiperatividade e desorganização emocional — sintomas clássicos do TDAH.

A Mãe como Reguladora das Emoções

O bebê não sabe acalmar-se sozinho. Ele precisa da mãe para aprender a regular suas emoções. Esse processo é chamado de regulação externa — a mãe consola, embala, nomeia os sentimentos, e com isso, o cérebro do bebê vai se organizando internamente.

Sem esse cuidado, o cérebro se desenvolve de forma desorganizada. Komisar afirma:

“Não é exagero dizer que a presença da mãe é um ingrediente neurobiológico fundamental no desenvolvimento emocional da criança.”

O Papel do Pai: Sustentar a Mãe, Proteger a Infância

Ser pai não é ser “co-mãe”. O pai tem um papel próprio: proteger, apoiar e sustentar a mãe para que ela possa estar emocionalmente presente com os filhos. Quando o pai cumpre sua missão, a mãe floresce — e, com ela, a infância dos filhos.

A crise da paternidade, tão presente em nossos dias, contribui para o colapso da maternidade. E sem maternidade viva, não há infância segura.

Crianças Pequenas Precisam das Mães, Não de Creches

É comum ouvir: “Mas ele está em uma ótima escolinha”. Não se trata da qualidade do ambiente externo, mas da natureza do vínculo. Como afirma Komisar, nenhum profissional substitui o olhar da mãe. Nenhuma sala de aula substitui o colo materno.

“A mãe é a única capaz de oferecer a presença emocional constante que o bebê precisa para se sentir seguro no mundo.”

A cultura atual encoraja a mulher a colocar a maternidade como algo secundário, quase um empecilho. É como se a presença constante da mãe fosse um luxo, não uma necessidade.

Entretanto, o que a neurociência, a psicologia do desenvolvimento e a experiência clínica nos mostram é que os três primeiros anos são sagrados. E a maternidade, nesse período, é um trabalho de tempo integral com efeitos eternos.

c. A Esperança: Nunca é Tarde para Reconstruir

Talvez você, mãe ou pai, esteja lendo isso com dor no coração. Talvez tenha se ausentado nos primeiros anos de seu filho, ou esteja vendo agora as feridas que isso deixou. Não se desespere. Sempre é tempo de amar melhor.

O vínculo pode ser reconstruído com paciência, presença real, escuta atenta e, se necessário, com acompanhamento terapêutico especializado e catolico. O amor, mesmo tardio, tem força para curar.

Conclusão: A Mãe é o Primeiro Ícone do Amor

O cuidado de uma mãe não é apenas um gesto natural, mas um ato teológico: é participação no amor criador de Deus. E é justamente esse amor que constrói a alma da criança e estrutura sua personalidade.

“É preciso coragem para nadar contra a corrente. Mas nada é mais revolucionário hoje do que uma mãe que decide estar presente. Sua presença silenciosa salva gerações.”
Prof. E. Martelli